O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou na semana passada, sob protestos do Ministério da Defesa, um estudo onde revela que ao menos oito das 12 cidades que receberão a Copa do Mundo de 2014 estão com seus aeroportos trabalhando no limite de sua capacidade máxima, ou beirando o colapso. Um dos casos mais graves é o do aeroporto de Manaus, cuja capacidade para pousos e decolagens simultâneos nos horários de pico é de nove pedidos, mas atende a 17, quase o dobro do que suportaria. Os aeroportos paulistas de Congonhas e Guarulhos têm desempenho semelhante: no primeiro, a capacidade é de 24 pedidos de pousos e decolagens, mas o fluxo é de 34 pedidos; no segundo, o limite é de 53 pedidos, mas são realizadas 65 operações.
Uma das conclusões do estudo é de que a evolução do transporte aéreo brasileiro encontrou diversos obstáculos para chegar ao atual estágio alarmante. Os problemas, segundo o Instituto, são de ordem “institucional, legal, infraestrutural e operacional”. Em outras palavras, não houve uma política séria no Brasil para desenvolver e equipar seus aeroportos, nem um planejamento de longo prazo para o setor. E o temor agora é como o país será impactado com o forte aumento de demanda por causa dos eventos de peso que vamos sediar nos próximos anos. Segundo o Ipea, o Brasil não tem políticas consistentes na área e precisa de uma definição clara de estratégias para a aviação brasileira para as próximas décadas, além de regras para a regulação econômica que orientem o mercado.
Recentemente, a prestigiosa revista britânica “The Economist” deu um sinal de alerta para o otimismo que atualmente acompanha a imagem do país no exterior por conta de seu novo posicionamento global, representado pela crescente importância da diplomacia verde e amarela. A reportagem lembra que, diferentemente da China, nós temos diversos gargalos de infraestrutura que podem prejudicar o crescimento e serem um obstáculo ao desenvolvimento do país. Do outro lado, temos o pré-sal, imensa riqueza fruto de estudos e planejamento estratégico que as empresas estatais, diferentemente dos poderes públicos, fizeram questão de preservar e desenvolver como ferramenta essencial de trabalho visando o futuro.
A situação dos aeroportos é só um exemplo de como podemos tropeçar e, para isso não acontecer, é preciso antecipação, cautela, capacidade operacional e executiva, ao lado do planejamento de médio e longo prazo na elaboração de políticas públicas.