sexta-feira, 9 de abril de 2010

Bomba-relógio

A destruição deixada por um dos maiores temporais já vistos no Rio de Janeiro ainda está sendo contabilizada. Foram cerca de 150 pessoas mortas (e o número não para de crescer), casas destruídas, desabamentos, vias interditadas, corte no abastecimento de luz e nas linhas telefônicas. A cidade do Rio e, principalmente, Niterói ainda sofrerão nas próximas semanas as consequências da devastação. As famílias afetadas talvez nunca se recuperem. E, em meio ao caos, a justificativa é a mesma de sempre: foi uma intempérie, uma chuva atípica e coisas semelhantes.

Chover em apenas um dia o esperado para o mês inteiro certamente abala as estruturas de qualquer cidade do mundo, mas a catástrofe que presenciamos esta semana é o resultado típico do descaso das gestões com a população fluminense, nas últimas décadas. A falta de verbas para prevenção de enchentes, a total ausência de um plano de emergência, a falta de planejamento e de ações efetivas contra o crescimento urbano desordenado e a proliferação de moradias em áreas de risco são os verdadeiros culpados de mais uma tragédia que se abate sobre o nosso estado. E essa não é nem a primeira a ser enfrentada em 2010, ano que começou carregado de problemas, como o deslizamento em Angra dos Reis, no réveillon, e posteriormente com a enchente que castigou a Baixada Fluminense.

Avisos não faltam. A natureza avisa a todos, todos os anos. Falta vontade política para interferir em um dos principais problemas do Rio de Janeiro, a habitação. É preciso pensar em políticas públicas sérias (e aplicá-las) para que todos tenham direito a uma moradia digna, em local seguro, e não arrisquem suas vidas em encostas, à beira de rios, em cima de lixões desativados, como o caso do Morro da Bumba, em Niterói. É preciso que esse sistema também pare de alimentar currais eleitorais, e que essas pessoas já tão sacrificadas não sejam vistas apenas como massa de manobra política a cada quatro anos.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Buscando soluções

Pela primeira vez no Brasil, o Fórum Urbano Mundial das Nações Unidas, encerrado no último dia 26, foi uma grande mesa de debates a respeito de um dos problemas mais urgentes enfrentados no mundo de hoje: a urbanização desordenada e seus impactos políticos, ambientais e econômicos na sociedade. O tema do evento deste ano, em sua quinta edição, foi “O direito à cidade: unindo o urbano dividido”.

O assunto é amplo e especialmente sensível aos moradores do lugar que recebeu a já famosa alcunha, dada pelo jornalista Zuenir Ventura, de “cidade partida”. O Rio que conhecemos hoje enfrenta sérios problemas de urbanização, vide a favelização crescente, diretamente relacionada a outras questões, como a ambiental (despejo de lixo em encostas, desabamentos; desmatamento, etc) e a de infraestrutura (a falta de transporte público eficiente e os recentes problemas enfrentados pela população no abastecimento de luz e água).

Esta mesma cidade partida, eleita para receber a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, precisa se reinventar a tempo das competições. E o Crea-RJ é uma das entidades que fazem fiscalizações preventivas nos estádios esportivos. Na mesa “Desafios brasileiros para a Copa do Mundo de 2014”, pude dar a minha contribuição para o tema, afirmando que o nosso grande obstáculo para a concretização de todas as ações que precisam ser feitas é a falta de planejamento. Mas, se conseguirmos mudar essa nossa postura, a festa esportiva será um excelente momento para transformar a infraestrutura da cidade de forma sustentável e também trazer oportunidades de investimento e emprego.

Precisamos contar não só com as instituições, que devem ser fortalecidas, mas também com a sociedade civil, que deve participar do processo, inserida em decisões estratégicas, como orçamentos, planos diretores, projetos de larga escala, megaeventos, melhorias de áreas degradadas e a preservação do meio ambiente. Desta forma, construiremos uma cidade, e por que não dizer, um país melhor e mais digno.
 
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