quarta-feira, 26 de maio de 2010

Risco calculado

Uma das maiores tragédias ambientais dos Estados Unidos acaba de completar um mês: o derramamento de óleo no Golfo do México, causado pela explosão de uma plataforma, ainda não conseguiu ser contido nem pelo governo americano, nem pela British Petroleum (BP), empresa responsável pelo desastre. Segundo o governo, apenas a companhia tem tecnologia suficiente para tapar os vazamentos do poço de petróleo, que já jorraram milhões de litros no mar.

O óleo já se espalhou por mais de 90 quilômetros do ponto onde começou a vazar, comprometendo um dos principais ecossistemas norte-americanos e o período de pesca, que se inicia nesta época do ano, o que põe em risco a sobrevivência e o abastecimento de centenas de milhares de pessoas. O grave acidente aconteceu justamente na época em que o presidente Barack Obama estava prestes a autorizar uma expansão controlada das plataformas na costa do país, de forma a conquistar seus oponentes republicanos para mudanças da legislação ambiental.

Por aqui, a nossa legislação ambiental é considerada uma das mais avançadas do mundo, apesar de, às vezes, ser pouco aplicada. Com a exploração de petróleo sendo feita basicamente em águas profundas – e a descoberta do pré-sal nos leva a mergulhar cada vez mais em busca do “ouro negro” -, a tragédia americana nos faz lembrar o quão arriscada é toda a operação de extração de petróleo do oceano, que ainda guarda uma misteriosa quantidade de espécies e é parte fundamental para a manutenção da vida na Terra.

A grande quantidade de plataformas no nosso litoral também não nos deixa esquecer a necessidade de se regulamentar os royalties pagos aos estados produtores, uma vez que, como ficou provado neste triste acontecimento, eles são os locais mais suscetíveis a grandes prejuízos ambientais.

O petróleo ainda é a principal fonte de energia do mundo e é apresentado como a verdadeira causa de guerras dissimuladas por outras razões, a exemplo da invasão e guerra no Iraque. O ex-presidente americano, George W. Bush, chegou a dizer, em certa ocasião, que somos todos “viciados” no combustível fóssil. Enquanto não se encontram alternativas à altura, e o petróleo se mantiver como o principal motor do desenvolvimento da Humanidade, eventos como o da tragédia do Golfo do México servem de alerta para continuarmos a proteger a nossa biodiversidade e a saúde do nosso planeta de ações humanas predatórias.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Primeiros passos

Nas últimas décadas, o Rio perdeu o bonde da história na solução do transporte público ao desprezar o transporte sobre trilhos: trens e metrô.
Agora, o recente anúncio pelo prefeito Eduardo Paes da construção de uma linha expressa ligando a Barra da Tijuca a Deodoro, batizada de TransOlímpica, traz alguns ventos positivos para aqueles que torcem que as prometidas melhorias no trânsito e no transporte do Rio saiam do papel. Sem ver uma grande obra viária há mais de dez anos – a última foi a Linha Amarela -, a cidade convive hoje com vias saturadas e congestionamentos que não param de crescer, trazendo os mais diversos transtornos para a vida do carioca.

Depois da habitação, o trânsito e o transporte público estão entre os mais graves problemas enfrentados pelo Rio. Não há cidade desenvolvida no mundo que não conte com um eficiente sistema de transporte. E para chegarmos lá, são necessários investimentos pesados. A iniciativa de começar as obras não só da TransOlímpica, mas também da TransOeste (ligando a Barra a Santa Cruz) e a TransCarioca (Barra-Penha, já com obras atrasadas) é o começo de uma ação que, caso tenha prosseguimento, pode ser fundamental para 2016.

Existem algumas outras importantes ideias ainda a serem executadas. Como parte do projeto olímpico, há a intenção de se construir a linha de metrô que ligará a Barra à Zona Sul, o que é essencial como parte de um sistema metroviário, hoje ainda incipiente e problemático. O trem-bala, que integraria o Rio a São Paulo com conexões nos principais aeroportos do país: Galeão (RJ), Congonhas (SP), Cumbica (Guarulhos) e Viracopos (Campinas) é um sonho tecnológico caro. Todos eles dependem da conclusão de estudos detalhados de engenharia e de muito, muito dinheiro. Além destes, há ainda o projeto de revitalização da Região Portuária do Rio, que traria um grande dinamismo social e econômico para uma área degradada há décadas.

Muitos projetos do passado – como a rede do metrô e os corredores viários “coloridos” – ficaram no papel. Mas, com a reunião de intenções, parcerias, recursos, poder público e pessoas dispostas, é possível concretizar o sonho de termos o Rio que nós merecemos.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Puxão de orelhas

Na semana passada o Brasil passou por um momento bastante embaraçoso ao tomar um pito do secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, por causa do atraso no andamento das obras para a Copa do Mundo de 2014. Das 12 cidades-sede escolhidas para o evento, seis ainda nem começaram as obras, cujo início estava previsto para a última segunda-feira. Valcke chegou a ironizar a postura brasileira de adiar os prazos combinados, dizendo que estamos esperando o carnaval e as eleições passarem para os projetos começarem a andar.

Tudo isso em meio ao rescaldo doloroso de tragédias provocadas pelas chuvas no Rio e em Santa Catarina, além de outros estados, que acontecem praticamente todos os anos, sem solução! Prefeituras, governos e o Comitê Olímpico Brasileiro apressaram-se em apresentar justificativas para atrasos e problemas, mas a verdade é que o secretário-geral está certo. A Fifa ameaça o país com a retirada da sede daqui, caso os cronogramas sejam novamente desrespeitados, coisa que nunca aconteceu antes na história do mundial. Londres seria o plano B – não é para menos, uma vez que a capital inglesa está, exemplarmente, com todas as instalações esportivas e infraestrutura prontas para os próximos Jogos que receberá com dois anos de antecedência.

Na prática, não devemos passar por esse vexame avassalador. A menos de dois meses de seu início, a África do Sul enfrentou os mais diversos problemas para receber a Copa, incluindo greve dos trabalhadores das construções. O cronograma começou atrasado como está o nosso, e sob os olhares atentos da federação do futebol, o evento vai acontecer. O que não pode, porém, é os nossos governantes relaxarem com esta perspectiva e não cumprirem o que foi assinado em 2007.

Como já disse inúmeras vezes aqui no blog, faltam às autoridades competentes o comprometimento sério com o planejamento. Há muito trabalho pela frente, e se as mediocridades políticas e a burocracia forem postas de lado, tenho convicção de que podemos oferecer um dos maiores espetáculos já vistos. A Copa, assim como as Olimpíadas, são uma grande oportunidade de crescimento e visibilidade para o país e para o Rio de Janeiro. Não deixemos essa oportunidade passar.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Debate necessário

O leilão para escolher o consórcio que vai ser responsável pela construção da usina de Belo Monte, no Pará, foi realizado após muita polêmica e algumas reviravoltas. Após a desistência de um dos dois grupos interessados em participar dos lances ter desistido de participar dos lances, o governo deu uma força, incluindo nos consórcios algumas de suas estatais ligadas ao setor energético. Enquanto isso, foram realizados diversos protestos contrários à usina, além de uma intensa guerra de liminares que chegou até a tentar barrar o anúncio do grupo vencedor. Não foi fácil!

A polêmica em torno da construção da hidrelétrica, que deverá ser uma das maiores do mundo, levanta a discussão a respeito do embate entre o crescimento econômico e a preservação ambiental. Em reportagem publicada recentemente, especialistas afirmam que as usinas avançam cada vez mais nos reservatórios da Amazônia, um dos maiores mananciais do planeta. Há, inclusive, estudos sendo feitos para mapear bacias que possam ser exploradas. E que, a continuar desta forma, nosso potencial hidrelétrico poderia ser esgotado em cerca de 15 anos.

O debate entre o crescimento e a preservação não deve ser feito como se os dois conceitos estivessem em lados opostos. Belo Monte, que começará a sair do papel, pode trazer impactos importantes para a população indígena do Pará, afetando o curso e a vazão do Rio Xingu. Encontramo-nos, porém, em uma encruzilhada, uma vez que as opções possíveis são bem mais devastadoras, como termelétricas a óleo e carvão. Além disso, a sombra dos apagões que há cerca de oito anos paralisaram o a população e a economia do país estão latentes em nossa memória. Dada a importância da discussão sobre modelos energéticos para o futuro do Brasil, esta é uma excelente oportunidade para se pensar em novas alternativas que levem em conta a importância do progresso sustentável, para que o país não tenha que voltar à luz de velas.
 
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